No último ano, o Brás, tradicional polo comercial de São Paulo, recebeu duas grandes marcas que mudaram a forma de vender na região: O Busca Busca e o Camelô do China. Ambas combinam o modelo de preço baixo e variedade de produtos importados com uma agressiva e inovadora estratégia de marketing digital.
Estratégia Digital
O principal diferencial dessas lojas é o uso massivo e estratégico das redes sociais. O método utilizado foi MCN (Multi Canal Networking) que consiste em construir uma comunicação multicanal. A forma utilizada pelo neste caso foi por meio de influenciadores, elas usam as redes como uma poderosa vitrine online, gerando uma demanda maciça para as lojas físicas.
No Camelô do China, antes mesmo da loja inaugurar, já havia milhares de influenciadoras gerando uma expectativa na audiência para o evento de inauguração, e o resultado: filas quilométricas para entrar na loja e sucesso de vendas já na primeira semana.
Essas estratégias fizeram com que as lojas ultrapassassem o limite de simples pontos de venda para se tornarem verdadeiros pontos turísticos do Brás. Hoje, visitar esses endereços é quase uma experiência cultural: consumidores viajam de outros estados, criadores de conteúdo registram cada detalhe e até quem não consome os produtos acaba sendo impactado pelo buzz criado nas redes. É a prova de que, quando bem utilizadas, as mídias sociais transformam negócios locais em fenômenos nacionais, que unem moda, entretenimento e turismo em um só lugar.
1. Busca busca e o “Chefe do Benefício”
O empresário Alex Ye, dono da rede Busca Busca, é a personificação da estratégia de marketing de sua marca. Conhecido nas redes como o “Chefe do Benefício”, ele acumulou mais de 20 milhões de seguidores, tornando-se um verdadeiro influenciador.
Inspirado nos modelos de venda online da China, o Busca Busca realiza lives diárias com até dez horas de duração, oferecendo descontos agressivos em relação a grandes marketplaces. A transmissão ao vivo cria um senso de urgência, escassez e proximidade com o consumidor. A estratégia digital é tão eficaz que a loja é apelidada de “Shopee do Brás”. O fluxo de clientes, muitas vezes desconfiados da compra puramente online, migra do digital para o físico, onde podem tocar e testar o produto, garantindo a experiência imediata da compra.
2. O Camelô do China
O Camelô do China segue uma linha similar, utilizando as redes sociais para construir visibilidade, confiança e variedade. O diretor de marketing da marca já destacou que as redes foram um fator decisivo para a prosperidade do negócio, agindo como uma vitrine online que humaniza e desmistifica o comércio popular.
Ambas as lojas exploram a variedade de produtos importados da China, incluindo utilidades domésticas, eletrônicos, papelaria e os chamados “virais do TikTok”. Eles vendem o que as pessoas veem e desejam nas tendências digitais.
O posicionamento de preço baixo é o atrativo final. A margem de lucro apertada é compensada pelo altíssimo volume de vendas, gerado pela demanda das redes sociais.
A fórmula por trás do sucesso
O sucesso do Busca Busca e do Camelô do China não está apenas na publicidade, mas em uma conjunção de fatores que revolucionaram o varejo popular:
- Direto para o consumidor (D2C): As lojas capitalizam na capacidade de importar diretamente da China, encurtando a cadeia de suprimentos e oferecendo preços mais competitivos.
- Marketing de produto Como resumido por Alex Ye, “o produto, por si só, é a maior estratégia de marketing”. A alta qualidade percebida (pelos vídeos de demonstração) aliada ao preço baixo atrai o consumidor.
- Experiência física da compra online: Em um mundo digital, elas oferecem a chance de transformar o “achadinho” da internet em uma compra imediata na loja física, sem taxa de frete e com a garantia de ver o produto na hora. A fila quilométrica que se forma na porta, inclusive, acaba se tornando um poderoso marketing orgânico e prova social para quem passa na rua.
- Empreendedor-Influencer: A personificação da marca no dono cria uma conexão pessoal com o público, gerando carisma, confiança e lealdade, algo raro no comércio de utilidades.
Em suma, Busca Busca e Camelô do China dominaram a arte de traduzir a experiência de “garimpo” e “oferta-relâmpago” dos marketplaces digitais para o ambiente físico do Brás, usando a força do vídeo e do influenciador para garantir que a clientela não apenas saiba da existência da loja, mas crie uma necessidade urgente de visitá-la.